JÚLIO AUTO CRUZ OLIVEIRA
Nasceu em Pilar, Alagoas, Brasil, a 3 de dezembro de 1880.
Cruz Oliveira é considerado o Campoamor alagoano. De sua modéstia sem medida, apesar de ser um dos poetas que mais produziram em Alagoas, nunca se animou a reunir as belas produções em livro.
Hoje é tabelião, e já não verseja.
Formou-se em Direito em 1904, no Recife. Foi eleito deputado estadual, mas recusou o mandato; juiz substituto até 1911, não aceitou sua recondução, tornando-se depois sócio de seu pai, José Ato da Cruz Oliveira, alto negociante em Maceió.
Pertence, desde a sua fundação, à Academia Alagoana de Letras, tendo como patrono o poema Manoel Augusto de Oliveira.
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Em 1949, em Paris, na França, foi Diretor-Chefe do Departamento de Ciências Sociais da UNESCO, quando desenhou os primeiros contornos do Projeto UNESCO NO BRASIL, que se ocorreu na década de 1950.
Morreu em 31 de Outubro de 1949, aos 46 Anos de Idade, ajudando a construir um Plano de Paz para o mundo.
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VELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 286 p. ilus. 15,5x23 cm. Exemplar encadernado. Bibl. Antonio Miranda
APOSTASIA
Eu nunca lhe mandei versos
sem que você mos pedisse,
porque tenho a poesia
na conta de uma tolice.
Que um rapaz de minha idade
com vinte e tantos por cima,
deve amar coisas mais úteis
do que pode ser a rima.
Não quero dizer que o verso,
quando ele seja bem feito,
não me toque o pensamento
nem me inspire o bom conceito.
Mas hoje em dia que os anos
já me deram mais bom senso,
e já não fico suspenso
Como outrora, o olhar sombrio
numa contrição devota,
—o que me dava, estou certo,
aparência de idiota.
Eu fui poeta , e o ter sido,
hoje me dói como um crime,
porque o poeta é sempre um doido,
embora um doido sublime.
Sonha-se rei, vê-se rico,
mais rico do que um nababo,
e entretanto, a mais das vezes,
não passa de um pobre diabo.
Por conseguinte, é imperfeito,
sem lhe falar na mania
que ele tem, de aparecer
de cabeleira e miopia.
Luiza, quer um conselho?
Jura toma-lo? Pois bem:
não perca nunca o seu tempo
lendo versos de ninguém.
ORGULHOSA
Não é que sejas mais do que o és realmente,
nem de tantas que amei sejas a mais perfeita.
O orgulho é que te empresta esse ar indiferente
de alma superior que de tudo supeita.
Vales tanto quanto eu, que tua carne sente
a delícia de andar aos pecados sujeita.
O destino nos fez o batráquio indolente
que da lama em que vive as estrelas espreita.
E olha, minha fatal e orgulhosa rainha,
as paixões não são mas, nós podemos contê-las,
Somos do mesmo barro, a tua carne e a minha.
Quantas vezes a sós tu mesma te condenas?
Um verme, porque sonha e se eleva às estrela,
Não será, por ventura, um pobre verme apenas?
AMOR PRIMEIRO
Ainda hoje, lembrando os meus ricos vinte anos,
acode-me à lembrança uma porção de coisas,
—castelos, versos meus, ilusões, desenganos
e os amores que eu tive — inquietas mariposas.
Mas de tudo o que mais, por entre a luz difusa
dos sonhos, rebrilha, é um nada, um quer que seja
que me lembra a visão que eu tenho de uma blusa
vermelha e de um chapéu de flores de cereja...
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Página publicada em junho de 2021
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